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A vida de cão

A vida de cão


Pedro Moreira Nt







    Segurar os chifres de Moisés sem pedir permissão Miguel ângelo por causa de Da Vinci que pintou aquela coisa magnífica e brigaram. Mas a cara de Da Vinci idoso parece o velho demônio de Miguel Ângelo. Depois de boiar no cesto da liberdade teve de libertar o mundo todo. Moisés, um sujeito que se divertia na vida a ponto de impor regras. Não isso e não aquilo. Acho que "não" parece onomatopéia, parece de altura vociferante, grunhido, pedra que bate na água, âncora que encalha o barco a ranger, o navio a partir.
Creio que entendeu o surgimento primeiro do sábio. O povo não sabe mais brincar como os cães. Teve que impor as mãos no que diz ser mandamentos. Mando parece mão que anda. Foi então que o demonio, a luz própria e pura de um ser dessa natureza se extinguiu com as regras, as ordens. Mas ele não sabia, não sabia que a burrice tomaria conta criando um tipo de gente diferente. Jamais imaginou que se tornariam apenas obedientes ou temerosos, furtivos, escondidos nas vontades baixas.
Deus estava certo em enviar lúcifer para as trevas, para a cabeça dos homens a fim de que pudesse conhecer o que é a burocracia, a idiotice, o trabalho, e a vida sem alegria. As trevas iluminadas não puderam compreender devido ao breu profundo da imensa ignorância a alegria de viver. 
O homem tem de matar o inocente para ficar com o petróleo. 
Somente o gozo puro, o cão realiza no imediato. É algo que somente a tecnologia pode demonstrar.
Deus é como uma fórmula geométrica que de alguma perspectiva de um sólido de base triangular prova que não existe. 
Assim é a alegria. E algo que vemos no cão e que em nós é o diabo.
 Está invertido. A liberdade luminosa do fogo, do pensar e criar está restringido. A obrigação, dever e submissão é o céu vazio. Um céu de desejos, repleto de estrelas impossíveis.
Sorte que o povoamento do céu em um futuro indeterminado acontecerá esvaziando o vulgo, exterminando a sesmaria do treino, da competência e da inovação. 
Não se devo explicar, mas é que treino é obediência a uma estratégia em que se determinam as táticas. Competência é a obrigação que pertence a alguém, um conhecimento especifico encerrado em si mesmo, burro. Inovação é um roubo, furto de idéias e valores de outros, usurpação de cultura, técnica, conhecimentos e seus modos a se tornar mercadoria padronizada. 
Não é o diabo? Quem sabe, de outro modo surja dessa luz diabólica que vive no homem, quem sabe se faça prática, independência e criação. 
É impossível brincar no mundo do cronograma, da marcha, da lineariade com determinações para finalidades, funcionalidades e utilidades. 
Por isso a arte e cultura foi banida e veio  morar nas políticas culturais deterministas, veio para o cárcere para morrer e para que a aparência exista e que se diga: essa coisa morta é arte, mas nós inovamos com esse modelo padrão, flexível, vendável, um negócio. 
Por que arte mesmo não fazemos, a gente copia a história dos outros e aplica à nossa intenção de lucro, a gente só faz elogios aos que tem medalha de honra de nascença, já vem incrustrado aquele pedaço de ouro futuro, aquela garantia de mercado. A coisa tem que representar políticas para isso e aquilo, para pobre e nobre - prol  obre e non obre -, para os que trabalham e para os que não fazem nada. 
Mérito por cumprirem o dever, por darem significado à alguma imagem histórica, valores do mito, heróis, os grandes, que de tão maravilhosos merecem o investimento público para a reprodução, manutenção ideológica e outras cooptações.
Arte não, que é coisa do diabo, um diabo que mata o bicho e faz o homem.
Um diabo que, como o cão se diverte e vive feliz, que diz não à ignorância e à mesmice conivente.
O diabo por um por 3 por 4 a 6 por 12 em ser sempre transformação, dúvida, descrença, incerteza, alegria, sabedoria esse parece que é procurado e morto em todas as esquinas e transformado em lindos produtos de valor para pessoas de bens.
A cultura não é tradição que isso é engessamento, regramento sem liberdade, mas é como a tábua das 10 estações - retorna a si, ao 1 -, a liberdade que liberta como única regra mosaica.




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