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Raul Cruz - desenhos

RAUL CRUZ – desenhos

Pedro Moreira Nt

Está no MAC, merecedoramente a expressão crítica de Raul Cruz. Os desenhos sempre remarcados por uma necessidade de significações como que pequenas charges, de uma delicada e fascinante linha. 
            Os desenhos tratam indissoluvelmente daquilo que mais o assombrava pelo que se conhece e do que ele me contou em nossos encontros na cantina do teatro. Eram divertidas algumas das suas insinuações sobre aquilo a que não se deve dar importância, de um teatro alegórico, ou da sua firme decisão de plastificar o mundo de dourado, ou aquilo que rememoro quando disse que é assim mesmo Pedrinho, a vida é um risco e é a gente que traça. Sempre educado, sempre colocando pano quente nas intempéries críticas. Ele, com sua gravata borboleta e riso, com o paletó e as mãos no bolso.  E é surpreendente rever os seus traços numa vida de riscos e compreender o quanto possui de sintético. Os traços dele saem de uma psicologia própria. A gente vê isso nos desenhos que estão no MAC, aquela exacerbação do abraço e do beijo que vai além do limite do afeto, e o desenho não se perde em moldurar riscos e formas, mas a transpor significados devido à dubiedade, o conflito simbólico, a ação subjetiva em busca da complementariedade. Se você for ver, vai entender um pouco mais dele e souber que aquelas representações significativas que são de sua interioridade, esbanjam certa crueza, ironia às famosas ordens do sim e do não. A poética em construção de Raul Cruz é esta metáfora, que se diga assim, em querer sinalizar o que é revelado. Como que ninguém olha a sua sombra na impressão subjetiva do morto, ou que o monstro de um olho só possui em si, um homem, nem que um abraço se perde num beijo ou numa forma, ou que uma cadeira é um lugar divertido que nunca se acomoda no espaço, e que se gosta da vida e se ama a morte ou que a religiosidade da vida não a proíbe, e assim se vai pelos descaminhos, numa ordem continuada pelo traço, como se fosse tudo de uma vez. Ele brinca com seus desejos, com suas dores e sua religiosidade. Anda nesta travessia entre a paixão e a punição, entre a vontade e a impossibilidade de ação. 
            
            
            Os curadores se entrelaçam em dar a todos nós um conteúdo que solicita de nosso olhar a revelação da obra e do artista na obra. São pessoas de reconhecido talento e que estão juntas e unidas a cuidar de Raul Cruz. O MAC, na ação diretiva de Eleonora Gutierrez propusera este encontro, de pessoas diferentes, de linhas e ações a igualar sentimentos, meios, métodos, técnicas para nos oferecer uma ordem coesa para a leitura de um dos artistas bem queridos nesta contemporaneidade.
            Enquanto a ação sintática tão evidente em Raul nos leva em busca de parâmetros, o trabalho curatorial tríplice apresenta uma de suas pinturas douradas em que ele mesmo é o anjo emoldurado, ele mesmo sobre uma coluna grega, no destaque da vida, no desejo do céu. É divertida, bonita, adorável – mas para a construção da curadoria é pintura e não desenho. O quadro informativo sobre a obra e o artista é imenso e inelegível, e na estrutura das palavras está conformada às ações do sujeito, muito além do que a do artista, mesmo que bem se saiba que um e outro mesclam-se e se fazem num só, ainda a ser revelado. E demais, a sala com a pintura e não a da gravura – que é belíssima e correta. O folder a recompõe novamente, querendo dinamizar o desenho as manchas de cores. E o sintetismo dança.


            

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