Camerar ou camelar
Pedro Moreira Nt
As Cidades na modernidade buscam aclarar sua função real de bem estar social e de legitimidade política. Obras faraônicas delegando ações sociais foram feitas durante muito tempo. Partia-se do princípio de que a ordem constituída local, das cidades necessitavam de um conjunto de direções que vinham de encontro a um programa de realizações político-sociais do Governo, já que se mostravam fragilizadas e impossibilitadas de realizarem um projeto próprio. Assim BNH, BNDE, Bancos de investimento, outras autarquias enfim, surgiram para promover as cidades. A intenção era a de entregar meios para a facilidade de negócios junto à população. Outros programas ligados à ação governamental exigiram uma proposição desenvolvimentista para a atuação política em bloco, porém divididas através desses braços.
Em dado momento histórico, devido a gestões e política desta ordem de acontecimentos que cresce muito, surgiu em seqüência, uma série de investimentos locais subdivididos. Bancos internacionais participam localmente de ações subsidiadas, e interferem na gestão dessas ações, empreendimentos internacionais acontecem na terrinha, na pequena cidade, na média e grande sem quase distinção - porque a estrutura tornou-se propícia.
Assim, muitas atividades tiveram que constituir associações para a melhoria destes meios, tiveram que se proteger da ação coordenadora dos governos. Sindicatos patronais da indústria e comércio, e mesmo de investidores que concorrem a licitações ordinárias produzidas pelo governo. Subsidia-se a ação privada na escola e em ordens diferentes da ação social. Descontos especiais para certos investimentos, diminuição do encargo social para outros, preferências na fila do fazer-ação, facilidade para a compra de carros, de bens e serviços, outras facilidades para a importação de inssumos.
Veja bem, você anda de taxi, paga um preço que está ligado a um projeto de investimento; o carro do taxista é subsidiado – isso quando é ele mesmo que é o dono, senão é empregado de última hora e faz a féria do dia; anda de ônibus e o ônibus é subsidiado; paga a escola particular, mas ela também é subsidiada; compra trigo que é subsidiado; livros didáticos que seu filho recebe gratuitamente mas que são subsidiados pelo governo e todo este emaranhado de ações governamentais que você paga estão diretamente ligados ao falimento da banca de jornais que não mais escolhe quais produtos põe à venda, ao fim do pequeno mercado que é uma cidadania de segunda classe já que possui outros subsídios de apoio e bancos facilitadores. Lembrando que existe bancos que facilitam – a juros subsidiados – que o auxilia montar o seu negócio que é parte de um repertório de ações governamentais que o colocam dentro de uma programa.
Vivendo um outro momento que é a do neo-liberalismo, em busca de ções com respostas diretas da procura e demanda, esqueceu-se da prevalência da cultura como ação liberal.
No entanto, se você assisti a uma peça, compra um livro ou vai a um concerto você paga opreço da onça – mesmo se essas ações culturais tenham sido realizadas com o dinheiro de impostos que um empreendedor deixou de pagar para facilitar uma montagem ou edição de um evento cultural. Outras ações que podem ser gratuitas foram pagas por você para que o investimento subsistisse, caso contrário não haveria o resultado do trabalho artístico-cultural.
E aquilo que é popular e comum, como as folias de reis, e outras atuações naturais do povo vão se perdendo porque se criou uma norma, uma ordem da qual é difícil sair: o subsídio. Mesmo a manifestação simples do palhaço na rua vai ter de pagar imposto. Mesmo parar o carro na rua hoje é pago a asfalto subsidiado.
Enquanto a nação defende a existência proeminente de grupos artíscos-culturais subsidiados para garantir a continuidade de uma cultura, da expressão artística discute-se o que fazer com as expressões livres que não cabem ao monopólio do negócio.
Qual é o programa das atividades artístico-culturais para o ano? Onde se apresentará? Quando teremos orgulho em ter nosso próprio elenco teatral contando nossas histórias? O nosso grupo de dança e musical, nossa orquestra municipal, o espaço de atuação das artes plásticas? Quando haverá o subsídio legítimo de nossas manifestações? Quando que as nossas vontades criadoras estarão presentes em nossas vidas? Seremos nós testas-de-ferro da imprudência, desgoverno e ações limítrofes?
Pedro Moreira Nt
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