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O palácio da vontade - O museu como lugar da comunicação do conhecimento



O PALÁCIO DA VONTADE
O museu como lugar da comunicação do conhecimento


O alojamento dos bens culturais, aqueles materiais e imateriais, a substância da experiência no ambiente do Museu.
Os espaços de museu possuem um caráter de proteção e de atualização, lugares de encontros dos pares, do embate claro dos resultados e das emanações laboriosas da experiência, são criações culturais para  facilitar a acolhida das pessoas e dos objetos (materiais e intangíveis) que possam em sua exposição, pelo estado técnico de sua construção ou narrativa, pelo estado de conservação e cuidados de guarda,  sobre a existencialidade em que promove algum circuito que tem por fim o desenvolvimento da pessoa.
E acolher é justamente depor no espaço reservado - no museu propriamente -, a colheita. Assim podemos referenciar que a medida da colheita deve ser construída na proporção da acolhida.  Juntar as sementes de acordo com o tamanho qualificado do lugar das nove musas mitológicas que presidiam às artes e ciências, deusas dos portais e por isso mesmo das características palacianas. 
A qualificação deste lugar, sua competência extraordinária de lugar das musas em que se exige  a apresentação destas ações, da divulgação sintática de funcionalidade, de diversidade controlada, da ciência e das acepções críticas, comunicacionais, sempre redentoras da vontade criativa, da localização da arte, do artista, do apego à linha histórica e dos valores que a ele rementem.
 Desde Alexandria, dos grandes espaços protegidos dos Ptlomeus ao gabinete de curiosidades, do guardado mercadológico do colecionador, como que investimento em cultura e conhecimento da ciência e das artes longe dos riscos da diversidade, vamos ao museu como espaço aberto à visitação pública.
Uma das características talvez fundamentais da instituição museu é o seu caráter público - talvez com o adendo da dificuldade de leitura pública de sua exposição devido a problemática cominicativa. 
RESENDE:2005 Os primeiros museus abertos à visitação pública remontam à Europa do século XVIII, como o British Museum de Londres, de 1759, o Hermitage, constituído em 1764 e o Louvre, instiuído em 1793. Na primeira metade do século XIX, uma série de outros museus de várias especificidades foram abertos em vários continentes.
Antes da arquitetura planejada para tantas musas em tão poucos continentes, a eleição dos bens culturais, de um templo das ações humanas ( não propriamente humanitárias) nos levam ao paiol. Explico o porquê. Porque no signo da paia, ou do invólucro, se estenderá à partida das sementes, a medida menor do replantio e o uso da parte maior para o alimento.
Quando o útero paiol está cheio, surge a proporção do lucro dos bens da terra, da messe laborada no aguardo da semente, como a missa e o culto religioso,  dos bens de fortuna do alimento da casa, das terras aradas, dos resguardos,  enfim do lar (que possui outra justificativa, algo que o diz ser sem outra coisa que não o fogo), e a manutenção garantida destas ações humanas propiciadoras de encher-se da messe toda, novamente o útero paiol das sementes. 
O museu é como o paiol em sua forma uteral, em seus cuidados e dificuldades, em acolher e fazer germinar os atos comunicacionais de um tempo, em suas novas ações culturais,  desde a iminência da guerra aos bens da paz. A parte maior alimenta, comunica e a menor retorna à terra, aos cuidados de sua preservação e guarda.
Nele preserva-se o gérmen, a semente da grande messe da cultivada cultura, do plano fértil do conhecimento das ações humanas, e mais aquelas que o garatem, por isso eleitas, buscadas no universo do diverso múltiplo e complexo do tempo.
O patrimonio jogado pela força paterna do criador (cultivador), pelas mãos hábeis da criação, ao lançar sementes: as mãos destras do pai que cultiva a terra.
O museu é um agente patrimonial das vontades, o paiol das sementes da guerra, do fogo, à luz do conhecimento vivo da paz.
Do desejo de coletar, manter  (que a própria palavra nos remete ao manuseio, o uso inteligente e educado das mãos, da especialidade das mãos em relação ao que se deve cuidar) é o índice que implica na seletividade do coletado, de sua desjunção significativa do ambiente coletado para o espaço do colecionador, para o pertencimento de coleção.

(COSTA:2005) ... a concepção de espaço  em geral, e de espaço expositivo em particular, é historicamente determinada....

É assunto de psicologia antropológica do feminino que acolhe a semente e faz brotar a realidade subvertida, a rasão desabrigada, a criação da criatura e que se diga do broto como parte congênere e necessária de uma vida mais regrada, organizada pelos estames da ética.  
Coletar e guardar possibilita um olhar direto à vontade de poder, àquele senso que não possui funcionalidade, possui mando.

(BACHELARD:1991) Quem quiser estudar A vontade de poder é fatalmente obrigado a examinar primeiro os signos da majestade. Ao fazer isso, o filósofo da vontade de poder entrega-se ao hipnotismo das aparências; é seduzido pela paranóia das utopias sociais. 

Os espaços de palácio são espaços de poder e da força das imposições da vontade, por tanto são arquiteturas cuja forma uteral estão devidamente ampliado nas significâncias externas, em seus portais. Há uma expectativa de que algo há de vir, de que sobrepõe o caráter de sua amplitude, um estado sobreerguido de proteção e ordem, que algo levanta-se do seu interior para organizar o mundo. 
O palácio do Olimpo diz que o mundo é de Deus, o palácio das colinas diz que a terra divina é do olhar do homem. Como nos templos, nas grandes cadeiras divinas, as catedrais que oferecem o caminho da humildade frente ao monumental de sua arquitetura ao sujeito em sua condição de pequeno. Ele entra como a semente no útero templo e sai como ente renascido.
Quando o pálio, isto é, o fogo divino representado em seu estandarte, em sua codificação de bando e bandeira diz a que veio, a quem está submetido e a quem submete às suas formas. O desejo investido de Deus seria construir o lugar dos homens e controlar suas ações, assim é a força dos palácios que acolhem a todos e oferece o diálogo entre o interior e exterior, ensinando a redenção. 

RESENDE:2005 O novo museu que desponta para o novo milênio demonstra portanto que as atenções se diregem também para anexos como lojas, restaurantes, cinemas, bibliotecas, terminais de ônibus e, igualmente, para a busca da originalidade da aquitetura.

Talvez todos sejamos levados ao museu sem a contextualização das coleções, no silêncio apático das obras, nos guardados protegidos e incomunicáveis como uma pasteurização da ação crítica da arte ou dos bens históricos e culturais. 
Grandes galerias dormentes, aconchegando a obra amordaçada, em seu silêncio frio de claustro, sem expressão.
Os paióis maravilhosos que guardam sementes que não germinam. As estruturas que não suportam a carga afundam, senão na derrocada das significações, talvez pela ausência delas. 
Mas se há ação que faça o museu uma estrutura que comunica, que narra essa ordem numa arquitetura que o abriga em ser abrigado, uma vontade que o faça por si mesmo, que busque meandros tangíveis, comunicáveis de sua interioridade pelas vias de acesso dos interessados. Porque, podemos dizer, que o feito das ações, ou o ato de realização de um bem cultural, qualquer que seja precisa da interpenetração do projeto interiorizado para a ação criadora, que fomenta e realiza no suporte a idéia. 

(BACHELARD:1991) Descrevendo a união da imaginação e da vontade em exemplos bem precisos, esclarecemos a psicologia de um sonho, por assim dizer, superacordado, durante o qual o ser trabalhador apega-se imediatamente ao objeto, penetra com todos os seus desejos na matéria, tornando-se assim tão solitário como no sono mais profundo. 

Os espaços museu foram desenvolvidos através da idéia palaciana de que o bem das sementes das ações humanas eram de todos. Mas só subsistiram devido à visão paiol de seu enfrentamento, de ser portador das sementes que o preenchem que o deixam prenhe das forças divinas que o colocam na ação da colheita, da coleta, da escolha e do plantio. A grandiosidade litúrgica do palácio subsiste pelo poder divino do paiol.
A visão palaciana diz que tudo é do rei, e que por isso tudo lhe pertence orgulhosamente. O que é do rei é de todos. Por isso a suntuosidade do palácio real como eminência do melhor que se deseja ao mais réles cidadão. 
O desejo de manter para o futuro aquelas sementes, aquela fortuna merecedora faz de mim um eleito. Mas é o paiol que escolhe, guarda protege algo que germina e nos faz ser um ente a mais em nós mesmos, alguém que experiencia no museu não a guarda, a conservação protegida, os cuidados e a curadorias, a ordem museográfica, mas também a preservação (em prol de ser ervar ou plantar novamente), a comunicação daquilo que se faz para perdurar, daquilo que foi escolha, eleição para subsistir.
Da visão palaciana tem-se o de desenvolvimento dos alojamentos, das salas expograficas amplas e da proteção (reserva técnica), onde os objetos patrimoniais que pouco a pouco tiveram de ser acrescidos por novos conhecimentos. Essa psicologia dos espaços de apresentação exige esta vontade majestosa de poder, da posse do algo caro e raro, do encontro com o significado e sua leitura interminável, da guarda e da proteção. O gabinete de exposição dos colecionadores para os negociantes da praça e para os ambientes dos salões, para a amplitude sempre renovada das arquiteturas que deseja acolher o povo como são os Palácios do Povo de Moscou, os terminais de trem.
A dificuldade palaciana para uma comunicabilidade de ascenção crítica, para a sua contextualizada vontade de expor, mostrar os bens patrimonializados é justamente o fato de que esses bens - tangíveis e intangíveis -, nos novos ambientes de vias abertas dos grandes museus com seus cafés, livrarias, arquivos, multimeios não possui tal síntese para demarcar nesses espaços as ações efêmeras que escorrem para o rés do chão dos assuntos da cidade.

QUEIROZ:2005  A postura que tomamos diante do ambiente em que interagimos transforma-o, propiciando nossa própria tranformação.

Quer dizer que os espaços volumosos impedem essa intercomunicação e é obrigado a achatar parâmetros, funções que se perdem indefinidamente. Apesar de caber o "povo" dentro desses lugares, as comunicações não adiantam-se quando não morrem frente as estruturas artísticas, por exemplo.
As condições de chave para a compreensão da obra, de uma filosofia que aparenta mostrar caminhos, retornos de difícil fruição do olhar, ainda mais se faz complexa esta comunicabilidade possível das ações. 

BACHELARD:1977 (...)  é sem razão que se quer ver no real a razão determinante da objetividade, ao passo que não se pode mais contribuir senão com a prova de uma objetivação correta.

Na complexidade advinda das estruturas simbólicas o significado é um encontro muito determinado no jogo inquirido pela substância a ser reconhecida, seja  o objeto material e imaterial musealizado, a obra de arte como palácio da vontade, estado que permanece no aguardo das chaves para a sua abertura. Quem deve ter dos portais a chave são as suas guardiãs, as Musas, as deusas dos portais, das artes e ciências que possibilitam esse encontro dos bens culturais, das ações da vontade. Esse olhar de musa e museu nesse ambiente com portas que se abrem sobre os temas, faz de Duchamp, a exemplo o lugar dos segredos. 
A cultura está relacionada com a transformação do homem, que precisa da missa, do lugar de seu plantio, da catedral, do palácio com a conformação do paiol onde a semente retoma a sua fertilidade e desenvolve o conhecimento, a experiência viva do que foi escolhido.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
1. Acquaviva, Marcus Cláudio. Etimologia e Expressões Pitorescas, Cone, 1994, SP
2. Bachelard, Gaston. Epistemologia, Zahar, 1977, RJ
3.Bachelard, Gaston. A Terra e os Devaneios da Vontade, 1991, SP
4. Paz, Octavio. Marcel Duchamp ou o castelo da pureza, Perspectica, 2004, SP
5. Resende, Ricardo. Arquitetura de Museus e a Museografia como Prática, projeto de disciplina Embap/PR, 2005
6. Queiroz, Moema Nascimento. Consciência Patrimonial: Construção da Cidadania, Curso Capacitação Museológica "Recriando o Museu", CECOR, UFMG, 2005, MG
7. Costa, Helouise. História das Exposições de Arte: Arquitetura e Expografia. projeto de disciplina Embap/PR, 2005

Charlie

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