ABORDAGEM MUSEOGRÁFICA
Pequeno estudo preliminar de um acontecimento museográfico.
RESUMO: Análise inicial de expografia como acontecimento museal, buscando compreender a co-participação dos agentes culturais, diretores curadores em direção de uma visibilidade do acervo. Onde e de que maneira a coleção (acervo) manifesta-se, e em que sentido o trato museográfico vai de encontro ao perfil do museu.
Que os museus devem criar sistemas de avaliação que lhes permitam determinar a eficácia de sua ação em relação à comunidade. ICOM:1972
A comunicação que se dá no museu em sua relatividade museográfica pode ser um dos parâmetros em se pensar novas perspectivas museológicas para a atualidade.
A exposição De Bonna 100 anos do MAC PR propositou um instante de revisão do olhar, no sentido de encontrar subsídios para a expografia.
O agente cultural ecletizou sua especialidade, os caminhos do objeto principal estavam a cargo da revalidação da sua historiografia de 100 anos. Esta visão torna qualquer proposição crítica dualista, naquele sentido de que a configuração de um perfil estava a cargo de uma exposição.
Afinal, uma exposição expõe, coloca a fora para a contextualização algo de si entranhado, foi exposto uma ordem. Neste sentido houve, evidentemente um sinal de decurar, de cuidar com peso e medida as evidências contemporâneas. E constatar que as dimensões dos objetos em relação ao material informativo, as dinâmicas expressivas das objetivações dos testemunhais historiográficos, e demais aparelhamentos expográficos a partir de um expectador imaginário toma-se reflexão difícil.
A genese de De Bonna para a contemporâneidade, a estruturação adversa da questão histórica da personalidade e da relativa constatação de um complexo com o acervo, a localidade entranhada das configurações e suas objetividades no universo construído da exposição, a demarcas que estruturariam o pensamento curatorial nos informes, etiquetas que deveriam regulamentar - por assim dizer -, a constatação crítica, proporcionalidade de intenções, ou encaminhamento cerebral, de um racionalismo orientador do recorte patrimonial em exposição.
Todas essas possibilidades do imaginário visitante entornam-se por uma anti-crítica, uma idéia performática de um acontecimento museal que não chega a ser fenômeno museológico devido a aparente consignação de homenagem, de foro relevante de uma ordenação sacrílega de tempo do que propriamente da sua enfoada limítrofe com a coleção.
Estruturas muito arranjadas não possibilitam permear, elas se autodenominam, e bastando-se a si mesmas continuam inerentes àquela estabilidade etiquetada que não oferece saída senão no conceito. Museu pode ser isso, aquilo, e os agentes culturais caminham pelo modismo ou ordem curatorial que não deixa parâmetro algum para quem quer que seja possa criticar. É uma coisa de entre-si, como que dissessem: ninguém aí fora pode saber!
Não há dúvida de que as proposições variantes deste acontecimento que deu-se entre 16/12/2004 a 20/03/2005 estejam na iminente escassez de relevâncias, mas que de per si deve manter seu argumento junto aos estames contemporâneos para suster do perfil, a incorporação de um momento elucidativo do tempo que estamos todos expostos.
A demanche se encurrala, aguarda procedimentos que não consignam um pensamento desentranhado da coleção do museu, parece que esta propriedade pública não chega ao imaginário-visitante. Evidente, porque por imaginação de tal personalidade, as ordens necessitam de reconhecimento, de ilustrativos que o levem ao acervo, à parte de si que é possível encontrar naquele momento, naquele dado acontecimento que se faz fenômeno museológico.
O imaginário ao perceber-se parte, ele mesmo refere-se.
O museu pode ser visto como lugar de emanação de conhecimentos, como estado de permanência de bens culturais, estudo e comunicação. Um dos fatos recorrentes em museu é justamente a de sua atividade comunicacional.
O sucesso das exposições, no âmbito dos museus, depende de variáveis resultante, por exemplo, de mentalidades geradoras de processos museológicos, das potencialidades de salvaguarda e comunicação dos acervos, dos perfis administrativos das instituições, da busca de soluções para problemas conceituais e técnicos e, especialmente, do conhecimento sobre as expectativas dos diferentes públicos. BRUNO: 2004
O fator pedagógico, ovular para intercomunicação e desenvolvimento de novos procedimentos no âmbito do revigoramento educacional, pode aferir-se nos intuitos sempre crescentes de relativas perspectivas para a inclusão social. Inclusão esta que corre o risco de a linguagem comunicacional ser exclusivista.
A formação ideal do visitante frente uma obra evidente como as estações da via crucis é o reconhecimento daquilo que já sabe, no entanto o etiquetamento transfere uma pedagogia para o entendimento do óbvio.
Evidentemente que a exclusividade é a recorte de uma ordem patrimonial, a exigência necessária para a construção de qualquer pensamento, com as evidências, a possibilidade de novos ensejos para a construção constante, revitalizadora do olhar.
Mas, nas circunstâncias apresentadas a evidência não permitiu a identidade.
São questões de difíceis compatibilidades de intenções, exigindo o intermédio de curadorias que promovam profissionalização por área e atuação especializada. Exige-se maior proximidade dos programas do museu com a lida museográfica, a leitura crítica, a formação de parâmetros provenientes do acervo, isto é, criando-se metodologias curatoriais que possam aperfeiçoar os meios comunicacionais com o público.
A exposição e o público, a força curativa de um bem patrimonial sempre desvelado, entregue ao reconhecimento, dado como fonte de uma certeza que insistente, perdura e alia, e contextualiza a vida.
A leitura avaliativa do perfil do museu e seu público potencial, e sua clientela visitante, de seus informes, a orientação às suas atitudes pedagógicas, o que afinal o museu oferece a encontro do visitante.
No caso da exposição como parâmetro de um visitante-imaginário, a ordem definida, sacrílega de parte do arranjo patrimonial em De Bonna pode comprometer o reconhecimento sacro de uma verdade de povo e suas nuanças modernas em lugar contemporâneo ou da contemporâneidade.
O Museu deve saber de sua especialidade e profundidade de pensamento antes de encarar uma exposição que seja meritória do ponto de vista histórico - patrimonial, saber das correlações possíveis entre a sua proposta museográfica e a distinção utilizada pelo recorte em questão.
Assim, como poderia um artista tratar dele mesmo com tal facilidade sem antes passar pelo crivo da crítica especializada, sem que a contemporâneidade possa ilustrar dentro de ordens ou regras propositadas em sua suficiência que possam, por fim oferecer a visibilidade de seu acervo.
A desproporcionalidade que possui o assunto anda além das ordens centenárias tão emulativas na arquidiocese das ações hisitoriográficas que precindem de revisões, às vezes difíceis, mas necessárias
Antes da exposição o museu parece necessitar estar completamente entranhado no assunto, o museu deve se posicionar ante a retórica do louvável enquanto especializado.
Como então admitir que o conhecimento, a força de um raciocínio visual perdure no artista sem que a instituição justifique ou discuta se este recorte deve ou não participar da proposição de uma curadoria.
A propósito, ao curar as evidências sócio culturais de tal recorte em caso desta exposição de De Bonna, repara-se que não só a desproporcionalidade de ajuste entre texto-pensamento, ordem, mas os arranjos de bens pessoais do artista desterravam por vez a visibilidade de um compromisso contemporâneo em favor de um suetâneo do séc. XVII - não pelas evidências, mas pelas condições museográficas que possibilitariam a emersão da ordem, sua tematização em direção ao acervo e enquanto acervo museográfico.
Que as técnicas museográficas tradicionais devem ser modernizadas para estabelecer uma melhor comunicação entre o objeto e o visitante; ... ICOM,1972:03
O que pode ser determinante para as atividades integradoras das coleções ( no caso dos acervos ) - sejam elas quais forem -, é justamente a sua visibilidade. Uma das qualidades integradoras dos agentes culturais em museu e seu público.
Os museus de artes plásticas sugerem desta qualidade intrínseca do visível de suas coleções, o cuidado especializado do agente cultural. O curador é o promotor desta visibilidade, é o encaminhador de um raciocínio, de que a instituição pensa o que tem e o que é antes de tudo.
A promoção projetada, dedicada da equipe curatorial, instigada ao pensamento que a faz direcionar a coleção do museu, a potência de seu acervo é justamente a expografia o perfil ou o rosto mostrado à luz, a sua identificação.
De uma ou de outra forma, desta ou daquela condição, o agente cultural é o sujeito que busca sintetizar um acontecimento museológico num fenômeno cultural de importância única, individual. Opurtunizar alguém a ter um encontro consigo mesmo é algo realmente necessário. O bem cultural vai de encontro ao bem social, pela individualidade assimilada.
O agente cultural, independentemente de sua fortuna especializada, do campo denotativo e das referências públicas de sua eficiência, de enfim haver um currículo reconhecido pela direção artística do museu, exatamente a curadoria, oferece, antes de tudo o seu projeto. A curadoria estabelece as conexões necessárias entre o que será ambientado, as condições, a leitura do que remete o objeto museal.
Estruturação de relativa coerência em busca de fundos informacionais, todos vinculados a programas internos da instituição museológica, criando-se parâmetros específicos do que trata o museu em sua especialidade, como está interagindo ou como comunica, desenvolve seu pensamento. O agente cultural estabelece as conexões é ele quem promove o perfil do museu.
A expografia tratada em De Bonna, torna possível apenas a homenagem e não o pensamento em direção da coleção, daquele acervo contemporâneo. O visitante-imaginário não vai de encontro às suas fontes, é necessário a reivindicação de caminhos.
Neste sentido, o agente cultural agencia, age, parte de um princípio. Mas quem agenciou este agente cultural parte de uma proposta inicial, de um projeto oferecido a este agente cultural individual ou que este agente cultural individual - seja, portanto quem se oferece ao museu como agente cultural. O agente cultural vai cuidar, vai acurar, curar, proteger, ensaiar e apresentar sua reflexão.
Em sua concepção moderna, a idéia de museu sustenta-se sobre um tripé constituído pelos elementos objeto/espaço/informação, que se inter-relacionam e interagem. LOUREIRO,2005:04
O termo curador: é o sujeito encarregado de administrar bens de outrem judicialmente, também é reconhecido como médico, aquele que cura, mesmo que curandeiro, feiticeiro, aquele que cuida portanto das chagas, cuida de um estado ou pertinência de algo que fere por ter sido ferida, ou que seja, enfim aquele que cuida desta condição para preservar a eminência simbólica da vida.
Bem, neste caso, podemos inferir que esta eminência simbólica de um ser redivivo possa ser o objeto museal.
O museu é o domínio, o ambiente de resguardo, dos cuidados, sabe sempre - apesar dos enganos -, que o agente cultural vai de encontro a seu projeto, à sua índole, à sua personalidade específica, resgatando das coleções aquela exegese da qual necessita fazer sempre emergir.
Pode haver muito a criticar dos acervos, dos erros, dos defeitos e das deficiências, mas é justamente isso que também faz-se ação museal.
O lugar renovado é aquele que é por si mesmo antecipado, criticado, colocado à baila, disputado no enredo a ser reconhecido. O museu é a instituição e pode portanto, instiuir-se como personalidade pública, como identidade de um lugar e isto é fonte e critério de ações museais.
Essa estratégia de voltar para a sua significação, tomar conhecimento da potencialidade que é, talvez não seja a mais fácil, mas é entre tantas uma das mais ousadas e substancialmente a que realiza um dado diferencial: conhecendo melhor de si mesmo, aparando, retirando as aparas, pode-se ver melhor quem se é.
Mas isso nada representa porque o tema não esgota-se.
A museografia auxilia, portanto, de várias maneiras o sujeito a aproximar-se do objeto.
Os resultados operativos das exposições estão diretamente contrastados com os procedimentos facilitadores, encaminhadores ou museográficos.
É o jeito de o museu ver a si mesmo, saber a quanto anda, que meios pode utilizar em sua atividade museográfica, em sua estrutura expográfica.
Sabendo-se um pouco de si, fica possível atuar melhor, e buscar novamente objetivos.
Assim, uma sala pintada de um tom que pode compor sobre uma temática, auxilia, enfim, dinamiza a exposição, valorizando a ambientação em direção de resultados sempre crescentes.
A direção artística, a curadoria, está sempre embrenhada neste proceder, em sempre refletir, criar os caminhos dos agentes culturais que vivenciam esta evidência museológica que, enfim, oferece a seu público - ao público do museu -, a sua reflexão.
Dos meios associados para a exibição sugere-se também novas técnicas de relação dos museus com o seu público, e isto leva-nos ao projeto museográfico.
O agrupamento do objeto, o circuito, as referências, o trato de luz e acondicionamento, etiquetas e texto devem ser o melhor possível edificados no sentido de atender ao público. Se tratamos de um público científico ficaria distoante uma organização didática e a simplicidade para iniciante do tema em exposição. O contrário também pode ser verdadeiro. Este "pode" implica na substância do público a quem é dirigida a exposição.
Indiferentemente da ordem, apresentação configurada dos objetos expostos, a reflexão é pertinente sempre, o museu que não reflete o seu acervo, que não diz quem é e a que veio, e que não se desnuda, está adiante de si mesmo.
O estado do que reflete existe na luz. O lume não subsiste à idéia, sem a experiência, sem a vivência entornada do que se é sobre si mesmo.
... é por outro lado impssível não nos impressionarmos comas desvantagens produzidas pela especialização excessiva das idéias que ocupam a atenão exclusiva de cada intelecto individual. ELIAS,1999:51
O museu não possuindo fôlego para alimentar sua crítica, vai aparentar sempre algo amorfo onde o olhar do visitante-imaginário, fica num sagrado cujos donos interagem com a imprensa velada das aparências. É o que parece, a museografia apresentada oferece um fato museal interessante sem dúvida, onde o adereço esquece a obra.
As novas formas de relação dos museus com o seu público e os conceitos que se quer transmitir, implicam em novas técnicas de exibição, ou seja, uma nova museografia.
Na atualidade, o museógrafo trabalha junto com as ciências de comunicação e informática. As informações escritas devem ser curtas, no estilo periodístico, mas com conteúdo cientifico. A televisão e a informática tem sido incorporadas para transmitir os conceitos de forma lúdica e efetiva. A manipulação de objetos passou a ser praticamente uma condição essencial de muitos museus, assim como a inclusão de tecnologia. Isto, sem dúvida, tem gerado bastante polêmica, pois não são todos os museólogos que aceitam a inclusão de elementos considerados de “cultura de massa” para levar ao público o resultado de investigações científicas, mas a quantidade de visitas aos museus que têm aceitado a incorporação de novas tecnologias demonstra que este é o caminho para conciliar o saber (antes considerado) “erudito” com as novas formas de compreender.GRAEBIN:2000:02
Impregnado por valores, conectado ao debate social e crítico, capacitado em desentravar, depurar, iluminar e receber sempre e do melhor lado os estímulos visuais, buscando suplantar as aderências funcionais da realidade com os vetores sensíveis que a tornam sempre visível, torna-se impregnado da atenção aos novos conceitos, no aprofundar e buscar a transformação substancial, poder prevalecer a dinâmica racional com o sensível, achar caminhos, promover o debate, tal-vez o visitante-imaginário possa estar incuído no museu ao encontrar as conexões identificáveis de um caráter sempre renovador.
BIBLIOGRAFIA
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