Pular para o conteúdo principal

OS ESQUELETOS SIMPÁTICOS DO QUADRINISTA ANDRÉ DUCCI

Esqueletos de arboles en noches que se hacen día
http://andreducci.art.br/final/?page_id=179


Esqueletos são simpáticos quando vivos e ainda por cima vivos. Deixar tudo para fazer nada, viajar ou descer ondas de barco chegar e sair de algum lugar para retornar novamente.
O trabalho plástico de André Ducci nos leva a pensar no recorte, uma assemblage cuja característica mentora está em manter equilibradas as figuras num fundo preto que faz destacar o gesto. Um gesto esquálido completo, de pele ausente.
Quem faz coleção de quadrinhos, tiras, gibis tem a oportunidade de atualizar essa configuração cinematográfica em seis posteres e duas prévias do desenho do artista.
Se pensarmos pela ordem das coisas, como tudo se manifesta cinéticamente, entenderemos que há sonoridade nos movimentos esqueléticos, que uma câmara os fotografou em closes, em planos médios, planos de meio corpo e os determinou numa sequencia cuja lógica está no falar/fazer, numa ação interveniente. Pode se dizer que o artista põe palavras senso/sentido na boca de seus esqueletos e organiza numa ação que na exposição sentimos que vai continuar.
Quadros em cadernos gigantes seria uma proposição interessante para a tipologia de seus esqueletos expostos.
O quadrinista tem a característica de somar acontecimentos, de propor um olhar esquadrinhado onde cada filigrana soma-se a outra e se determina, ou realiza uma objetivação.
Um quadrinho se propõe a uma síntese de acontecimentos que levaram o personagem àquela posição. Não é por menos que em Metodologia do Ensino da Arte compreenda-se a necessidade pedagógica do quadrinho com um valor de expor um vir a ser e um estado de ser da personagem. Quem desvenda o quadrinho compreende intersubjetivamente que existe uma ordenação significativa. O personagem veio de algum lugar por algum motivo e está naquela posição por alguma razão, e sairá para outra devido a um fim e motivo que se esclarece ou não no final da história. Uma outra posição que se pode ter em quadrinhos é que o artista é ao mesmo tempo o mentor do brain storm, o acontecimento tempestuoso de sua criatividade, também o criador, aquele que sustenta a direção criativa, um pesquisador da forma em suas raffis, perceptivo das ações idiossincráticas que revelam um tempo e espaço sociocultural presentes no gestual coreográfico da personagem, e assim se faz moderador dos acontecimentos como um roteirista porque também é o organizador de um story board que define a condição de um eixo de câmera, produz o movimento e o escalona dentro de princípios planos sequenciais e de corte, é o produtor do evento.
En Durban hay esqueletos trágicos 

O exercício da produção do quadrinho obriga o criador a sintetizar num espaço delimitado toda uma ação existencial das figuras compreendendo numa margem semiótica um signo que não verbal comunica-se intensamente. Além do corpo, da mão do desenhista, a trajetória criativa encaminha-se em artes visuais à ferramentaria sofisticada presente num table eletrônico onde a forma é transportada para o computador e tratada nele, digitalizada para se estabelecer em variados suportes e produzir a arte.
Assim, aprender quadrinhos, compreende-los é também um esforço de conhecimento artístico uma arte que se compartilha. As políticas públicas em educação devem abrir caminhos para que artistas, como Andrá Ducci possam participar diretamente do processo ensino/aprendizagem, da dinâmica de uma pedagogia que oportuniza a criatividade.
Os esqueletos, uma desmistificação de formatos conhecidos, fórmulas sabidas se faz nessa exposição como um traço diferente de se saber que o fim é o começo, que a ordem está invertida que não há outra vontade senão viver.
Criar também é construir direções, territórios, desenvolver sentidos e ampliar no espaço o senso crítico da realidade.

A EXPOSIÇÃO:
Local: CCC - Centro de Criatividade de Curitiba
Parque São Lourenço
Período: de segunda à sexta das 8h30 às 12h; das 13h às 20h e sábado das 08h30 às 12h; 14h às 18h
Período: de 26 de fevereiro a 04 de abril de 2010

Postagens mais visitadas deste blog

Arquitetura do passado no presente

     Há lugares com mais de seiscentos e vinte e três castelos, testemunha ideológica da história.  A permanência, fulgor de eternidade, posição geométrica de onde se crê a continuidade da paisagem, de uma extensão visível de um fim à distancia, de algo inalcançável. O bicho quer ficar, enfiar os pés no terreno, rasgar a terra e ter raízes. E também quer pular o muro do infinito, saltar o horizonte e se apossar de qualquer torrão onde for caminhar o seu olhar. Amarrado aos sete lados, dimensionado ao mesurado  arquitetônico de seu cubo.      Estético, se diz inovador, estático, a expressão de um amontoado à bricola do formalismo. Dar a si o mundo, cercá-lo até tudo o mais ficar amarrado, cheio de si. Paredes de terra quente, vidros gelatinosos, duros, mas fleumáticos, comem a paisagem num anti-reflexo, e gira mundo, e o visto engolido que é sempre outro.  Terrenais estruturas no desmazelo ordenado da cultura. E dura nada essa eternidade tardi...

Projeção do óbvio

     O óbvio, disse Nelson Rodrigues e, talvez também Suzana Flag, (a bandeira ou as pétalas do verdadeiro lírio), alma superior, diz ele, que o óbvio é alguém sentado no meio-fio de uma rua chorando e usando a gravata como lenço.               Essa individualidade lastimosa que nos diz que esta alma, este ser bem ajustado ao sistema, bom executivo, ainda, por alguma humanidade desconhecida se limpa no adorno, na forma, na gravata suas dores impermeáveis por nossa visão.     O mínimo que nos conta o máximo, ele, fora da casinha, da inserção grupal.   Não vemos que o sujeito está revestido da técnica, e não entendemos porque aquele corpo revestido do uniforme, da formalidade, chora. Dizemos, não cabe, ele nos põe em uma sinuca, está fora de questão, e isso, por fim se faz doloroso. Ele chora, fora do grupo , do que é compartimentado,  ele, um elemento.      Ficamos assombrados com isso. De...

A casa de Zeira, Moró e Mara

     Depois da festa pegaram a garupa, vieram pela estrada lenta, desceram os cafundós com a permissão, era o documento da terra, um carimbo e uma garrancheira de um tal. O que era longe? O que podia ser? Chegaram lá. O córrego limpo e o rio barrento. Havia uns bichos soltos que apareciam se lá que horas fazendo fuzarca no terreiro. Desceu a lenha, fez o fogão para rogar à divina bondade que não inventasse gente torpe que lhes tirasse o sagrado.      Cuidar da prenha para não perder o leite. E aquietar os cães na polenta e as carcaças. Depois de descer o bambu fazer correr a água mais perto. Nivelar a parte e começar a cavar para ajustar as pedras. Amarrar bem no barro branco com palha de milho e cinza da fogueira, é o que mais segura o estuque.       Ajeitou o telheiro num canto para morar durante a construção.      Ela havia riscado os cômodos. Baixavam o barranco para levar terra pesada, argila fina.     ...