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Antes de chover na praia eu acreditava no sol


Antes de chover na praia eu acreditava no sol


Pedro Moreira Nt

A divisão do quadrado ainda faz triângulos.
O pensamento diagonal purifica os meios abrindo
os leques divinos.
O homem dividido
tem ângulos e pontes e medidas e encaixes








Nota.

Agora vou continuar o que pensei. Não será pensamento e sim ação. Há coisas a fazer diariamente. A menor delas pode ser o comprometimento ideal de uma vida inteira. Começo do agora reunindo os livros abandonados e das esperanças que ressurgem. E de cada um deles, dos sonhos, o que foi esquecido. Assim, o que pode ser lembrado como a reminiscência do esquecido, do jamais visto. Do entendido sem compreensão, como são mesmo as palavras malditas por más.
Mas começo desse ponto, onde está meio caminho. Não elas, escalavradas,  nem a mnemônica consistência que faz saber que possuem um tanto de mim humano, mas antes de serem conhecidas, antes de pronunciadas, depois que foram jogadas no ar, na esperança de serem colhidas, ajuntadas com algum outro porquê. Sejam tantas, e quantas são únicas, unicamente vertentes.
O planejamento será recuperar os desejos, fazer a receita e, passo a passo juntar os ingredientes e assá-los se for o caso. Devo dividir o sonho realizado desta vontade de assado e servir a quem desejar. Caso não gostem, posso melhorar o gosto de quem experimenta o desejo de outro ou mesmo posso oferecer outros que tenham um paladar próximo do meu. Para isso, nada de fogo baixo, vamos calcular a temperatura e aguardar o cheiro e depois desemborcar; livre da forma e comer com aquilo que dura o tempo do alimento.
A indústria do desejo é difícil para quem divide o quadrado ao meio. 
Vão entender. Muita gente diz que sou o quadrado. Muito bem. O quadrado no meio são dois chochos retângulos. Mas à diagonal são lindos triângulos e pode-se fazer mais com eles.
A vontade é a necessidade construída - nesse caso -, e a crença é a antecipação da certeza, antes do sol matinal, mais luzes sobre o jardim.

Não exija nenhum valor de quem sofre da angústia da menor valia.


Acordei às cinco horas e ainda percebi o rastro do vento à janela.
Ela já havia partido - eu a olhei tão fundo como o poço vê o sol.
O carro parado a esperava.
Algumas palavras: depois eu telefono.
A sineta do portão batendo e aquela voz traída: porque demorou, - alguma reposta saliente.
É por isso que não quero morrer: ela foi embora, eu fico.


Quero dizer que eu não te amo mais.
E não me olhe desse jeito Rosalda.
Tá, fala. Diga que sou o único culpado; acabou, acabou.
O único que ainda pode sair correndo para casa e ver se o ferro elétrico está ligado, - está ligado e não há ninguém na lavanderia.
Corro para o quarto e você está deitada novamente com o baixote.


Estourava pipoca na grande panela carmim de ágata francesa com desenhos de biscuis lembrando anjos tristes, os tais anjos.
- Depois come e o céu encarregue do serviço de cuidar que já fiz meu tempo.
Comeu e engasgou-se e ficou lutando contra a morte até o fim no jardim enquanto que ela, ainda na cozinha enfeitava pipocas com açúcar colorido.
- Morreu!
Já estava cansada mesmo e ele também, uma pipoca a mais e o fim à garganta mais prenhe de sangue que navalha.
Parecia um de seus anjos envelhecidos sobre o banco azulado, sem asas e triste como os tais.
Culpou-se, chorou e devorou dois pratos cheios de pipoca doce antes de avisar a filha, o filho e gritar em vão aos vizinhos naquele domingo.
- Do que será que morreu?
- Pipoca.
- Estourou?
O jardim permaneceu intacto até o momento em que as crianças chegaram e quiseram sentar-se a seu lado frio.
Ela ainda pensava em estourar o mundo.
- Foi sem querer, nem me dei conta, quando vi era tarde.
Deviam ser seis horas, a igreja badalava no mesmo horário em que as crianças saíam da escola.


O jornal anunciava mais um muro a ser construído. Ouvia-se os disparates de antigos proprietários que não gostavam de vizinhos e foram eleitos por eles mesmos.
- O muro não é de sangue, minha gente, é de pedra. Custa menos separar que unir, cada um cuida do que é seu e a vida vive.
Uma idéia estúpida. Talvez os pais não tivessem dado o calor de suas presenças em sua vida e nunca sentados a seu lado contado aquelas histórias maravilhosas de livros amados.
- É uma questão de segurança!
A liberdade agora estava trans-ferida, devia ser conhecida como lugar privilegiado, segregado, guar-dado no cofre escuso.
- Liberdade é a garantia de que ninguém o perturbe. Quem quer saber se o seu vizinho dormiu mal e olha para você com dor de cabeça?
A guerra havia nascido em todos os campos e minava angustiosa.
Ela não prestava atenção à batedeira de bolos à sua volta. Nem mesmo sentia o cutucar fulminante do apito do forno avisando que o bolo estava pronto.
Ele andava de um lado a outro feito aspirador de pó em último estado.
Não, ela estava entretida com muros e proteção e pouco sabia de vizinhos, culturas e valores. Conhecia somente o baixote da padaria que sempre a trazia de carro comentando as últimas notícias e o início de outra guerra.


Será que ela vem? Claro, com aquele horrível vestido de bolinhas.
Mulher com vestido de bolinhas parece que foi apedrejada. 
Minha mãe pintou uma pipoca e fez broche - todo mundo diz: que lindo camafeu!
Mas vestido de bolinhas! 
Eu a mato, logo hoje eu a ma-to.
Será que teria coragem, logo hoje no enterro de papai.


Olhei para ela e disse: parei de roer unhas!
Ela sorriu disfarçando o medo - insisti.

- Parei!
Estava engasgada.
- Eu não vou voltar!
Correu embora.
Fiquei apreensivo, sinceramente deu vontade de, - não posso dizer. Você sabe, - eu nem a conhecia e acabei falando de algo tão particular.
Não lembro direito do que estava falando, mas tem a ver com piano.


As coisas normais são tão boas.
Estamos em casa. Você assiste ao jornal e fica aborrecida com tantas guerras.
Eu estou a seu lado batendo o pé como se fosse uma máquina de lavar tentando fazer sumir meus pensamentos.
Ouça. Rosalda, ouça e veja esse seu maldito jornal e esqueça de mim, esqueça que sou eu quem lava suas roupas de baixo quando ainda dorme abraçada com o baixote da padaria.


Quero ir ao banheiro - Não posso pensar nisso.
Detesto banheiros públicos.
Logo na casa da Clarice.
O banheiro dela é público. Entra e sai; sai entra.
Se eu sair devagar vão notar.
Não tenho grana para pagar o valete.
Se ninguém encostar fico duro e calmo e nada vai acontecer.
Ela não consegue e vem em minha direção.
Serei esmagado e o mundo há de feder.



Rosalda, Rosalda ouça. Tire da TV esse seu olhar armado ou engula esse pão e ouça!
Não, não é possível, com o liqüidificador de sua boca ligado não dá para ouvir mesmo.
Não é que ame você, meu bem é que o baixote usou meu xampu e você não fez nada. 


Dúvida. Não sei. Não sei se vou para casa ou fico aqui. Se ficar aqui vai chover, vou para o hospital, pneumonia, infecção hospitalar, gri-pe asiática, - frango morto!
Vou ficar; acho que vou.
Se volto para casa, minha mulher vai perguntar onde estive, o que andei fazendo: - o que aconteceu? E vai ficar nervosa e irritada; irritada e nervosa. Depois vai dizer que eu não gosto dela, que não tenho tempo; que sua vida é um lixo. Vai chamar a mãe, o pai, os irmãos, os amigos, os vizinhos e começar a chorar e gritar; gritar e chorar. Pode ter um colapso e acabar morrendo. Pronto! - Tribunal -, sou o único culpado: Prisão perpétua!
Há certas dificuldades que comprovam, - que sem dúvida -, a vida é boa. A vida é boa, sem dúvida alguma.


Escuta, todo mundo sabe que você é um anão, mas por favor abaixe os braços, prometo que guardo o revólver.
Mora aqui? Não me olhe desse jeito, parece irreverente.
Detesto irreverentes, a gente vive, aponta a arma e eles mostram o quanto são bons.
Gente boa morre também! - a bolsa.
- O que é isso?
Você também é assaltante? Sabia, dono de padaria e assaltante tem a ver com a mulher que a gente ama.


Onde você vai ?! - perguntei. 
E ela não respondeu.
Joguei uma pedra, pequena, dessas de rio para chamar a sua atenção, - foi no momento em que virou -, bateu na laringe - bem aqui -, na garganta. Caiu afônica, ficou roxa, não respirou mais, ficou dura, morta, fria.
Não é possível, como pode isso acontecer?
Morre e eu fico sem saber.
O mais engraçado foi quando telefonei para o meu médico e ele disse que não podia atender, esperava minha mulher.


As três horas da manhã telefonou dizendo que estava ao piano.
- E daí?
Ela não respondeu, mas entendi bem o que é uma pausa.
Ficou parada e mexeu algumas teclas.
Estava claro que sonorizou horizontalmente - quer dizer que provocou-me -, eu havia dito que não mais roía unhas, então esse som abandonado. Necessitando de sentido.
Era o convite: - venha aqui e toque para mim.
Mas eu nem a conhecia e fiquei apreensivo.


Entre a certeza da TV ligada e a última notícia, prefiro ainda a chuva e o médico que diga o que devo comer hoje.
Tenho fome, mas e daí se há tantas farmácias e hospitais? Posso pedir uma pílula, fazer um descalabro, gritar agoniado, tentar o suicídio que logo estarei confortado nas atenções belicosas do éter e da aspirina.
Quantos hospitais e farmácias à disposição., Voltar para casa é como nunca ter ido. 
O meu rádio interior anuncia os melhores preços de remédios caros e impossíveis.
Salvam-me a vida.
Ela morre e eu vou para o céu.
O vestido de bolinhas, a pipoca estourando na boca, as crateras abertas na pele, a TV ligada e a seu lado o padeiro baixote.
Entre ir e não ir, o colapso.


Quando entro em dúvida, telefono para o médico. Ele sempre diz que entre ovos e batatas fritas tem-se  a necessidade maior de proteínas a carboidratos, mas que esse assunto não era com ele e sim com o meu nutricionista. 
Agora, eu sigo regularmente a ordem da alimentação, mas na falta de um deles, qual é o substituto saudável?
O meu médico ainda, (é uma provocação), pergunta se eu tenho tomado os meus remédios no horário certo. Eu nem respondo e desligo na cara. Primeiro que não sou relógio. Mais a mais o meu psicólogo sempre acha que eu devo perceber as minhas diagonais e valorizar de todas as opções, aquelas que realmente influem decididamente sobre o meu caráter. Claro, ovos faz mal, batatas incha e faz o sujeito pesado. O quê? Tomo água e assisto televisão ou abro um livro e bebo água?
Estas dificuldade comprovam a vida boa de quem não necessita da dúvida e vive bem sem ela. Eu, preferencialmente ainda pergunto, mesmo para Rosalda enquanto assiste ao jornal.


Antes de conhecer Clarice roía unhas como cortador de grama entorno da TV, e aqueles olhos penetrados no sangue das guerras.
- Quantas guerras, dizia.
Eu não solucionava a morte e jantava-me a cada pedaço das garras.
- Eu destruía esses desgraçados, dizia.
Ouvir tudo isso não era só penoso, havia também o padeiro.
Mas Clarice chamou-me para a sua festa onde estaria o piano.
Havia devorado mais que podia, a ansiedade estava tão alta que se o barbeador elétrico funcionava na minha cabeça, a memória morria.
Mal lembrava onde estava e para onde ia, sentia o impulso, a necessidade de piano e unhas normais.
As minhas eram devoradas, até aquele dia que tornaram-se, aos cuidados ruidosos de Clarice boas o suficiente.
Ela entrou em minha alma pela porta lateral da loucura quando falava que roía unhas no banco escuro ao lado daquele jardinete comum das vias públicas.
Ficou assustada, alguém dizia algo como que a conhecesse antecipadamente.
Não esperou muito e acabou telefonando. Aceitei visitá-la ainda mais porque pratiquei ao piano um tanto suficiente para que ouvisse aquela sonata que tanto a encantou.
Prometi realizá-la o melhor possível. Mas havia exagerado, e estava completamente enfezado no sentido de estar mesmo cheio.
O mal humor e o desajuste obrigaram-me a partir.
Ela soube de tudo e entendeu. Perdoa porque amor perdoa. 


Sonhei contigo, disse-lhe.
Ela sorriu estampada, lembrou-me sua voz traída ao portão.
- O que sonhou? Gritaram seus olhos igualmente antes da última discussão e depois que ele a devolveu em casa sem dizer uma palavra e bater a porta do carro - porque ela, ao descer não comoveu-se em querer fecha-la -, simplesmente desceu.
O máximo que ele fez foi um gesto para baixo, algo como jogar uma pedra imaginária na garganta afônica da mulher que disse amar. Eu vi tudo isso da cortina da sacada. 
Os olhos ainda reverberavam.
Senti que o baixote insistiria em trazer o pão pessoalmente.
Dessa vez dar-lhe-ei uma pancada e o prenderei por algum tempo, como fiz da última vez, na máquina de lavar. Só que, se ele vier, sim, se ele vier eu a ligarei. E ele debater-se-á com pão e tudo. (Será que primeiro não como o pão do amante baixote da minha mulher?).


Sonhei que dormia tranqüila num imenso e aconchegante edredom e travesseiros de bolinhas vermelhas. 
Lembrei da morte de papai e a pipoca explodindo como camafeu no belo vestido preto de mamãe.
Ela sorriu despretensiosa e mudou de canal.
Mudou, meu Deus, ela mudou de canal no horário do jornal. Essa mulher usa vestido de bolinhas vermelhas e foi apedrejada.


Eu não queria fazer aquilo logo em casa de Clarice, juro. Mas ela veio em minha direção determinada a espremer-me em seus braços como pasta, dentifrício. Mal agarrou-me e o mundo foi descoberto e as guerras começaram a ser anunciadas novamente na TV.
Foi pânico total, entra e sai; sai e entra. Chamariam os bombeiros se o grito de Clarice não fosse mais apavorante que as sirenas gritantes das sirenas dos bombeiros.
Desci às pressas pedindo perdão, escorregando pelo corrimão do último ao primeiro andar e dando-me de encontro com Rosalda amassando o pão com o valete que esperava a gorjeta. Entrei no carro e ela disse-me. Como pode?
- O quê? O que foi Rosalda?
- Você não pagou o valete.
Acredite, dessa vez eu não voltei e nem mesmo pedi desculpas.



Bolinhas vermelhas e as unhas cortadas. O renascimento absurdo do baixote quando saiu molhado da máquina de lavar. As discussões frente à TV durante o jornal que anuncia mais uma e outra guerra e fala de morte. A pedra à laringe, a garganta afônica. 
Ela entrou no centro onde vivem os cadáveres e soluçou. O médico legista tomado de susto disse: está viva.
Clarice voltou a escovar os dentes e nunca mais espremeu-me. Tudo bem, não toca mais piano porque voltei a roer unhas. O baixote casou-se com Rosalda e Clarice dorme a meu lado.
Não é necessário dizer que depois da morte de papai, mamãe nunca mais comeu pipocas.


A vida é boa, mesmo quando se vai à casa com risco de vida e temos que ouvir tudo aquilo. Não é mais necessário voltar àquele lugar, o baixote a levou no carro de entrega de pães. 
Eu fiquei maravilhado, esperando por tanto tempo que Clarice voltasse à banqueta e tocasse novamente. E ela o fez.
O valete, até hoje encara-me como um devedor conspícuo. Na cara está o olhar de quem vai processar.
Ficou com a TV e o edredom e travesseiros de bolinhas vermelhas. O vestido, Rosalda levou - o baixote adora apontar os dedos para cada uma delas.
Os triângulos equiláteros fazem o quadrado e ao meio os retângulos da forma esticada. Prefiro diagonais que horizontalidade à verticalidade definida. As diagonais apontam para cima e podem abrir o leque de intenções divinas.


Talvez o frio mude as condições das vísceras. Haja maior elementos para suprir a vida.
O interior rasga-se, ajusta-se às mudanças da mesma maneira que o olhar fixo na obra de arte.
Há tantas luzes soltas no olhar da manhã.
Você perde-se em querer beber a sensatez. Devemos nos refrescar com a claridade nova.
Hoje chove, e a luminosidade das gotas tenras ocasionam um ar límpido espelhando densas nuvens.
A expressão basta-se a si mesma. Não há significado na sensação - a não ser que pensemos nisso. Talvez queira entender o processo, mas sabe o quanto é doloroso. O teu ente não responde senão em migalhas, mergulhos fragmentados no mar da dúvida.
As verdades dormem aconchegadas pelo espanto da descoberta e calam-se quietas, deitadas no tempo, chuva do desejo. O mar contrariado.
A descrença abriga a necessidade. O descrente crê no que precisa.


Pedro Moreira Nt

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