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Meus pensamentos não me pertencem

  S e alguém pensava que o que pensava pertencia ao seu pensamento, uma propriedade única. Hoje, talvez não tenha perdido o que foi pensado, quem sabe, descobert​​o que o pensamento parte do lugar onde se encontra. Você pode pensar assim também. Mas todo pensamento não suporta a intervenção absoluta do mundo, todas as mínimas coisas e a imensidão que se transforma.  Somos pessoas que compartilham. Muito do que pensamos está em nossa estrutura orgânica, presente em nossa percepção, desde nossa herança biopsicológica, constituída pela experiência cultural social, filogenética. Vemos algo e damos uma medida, antecipamos nossos passos seguindo o caminho solar, nos integramos com o gesto de outro, um sorriso, um bocejo que atua sobre nós e interfere diretamente em nosso comportamento. Mas o que nos faz alguém em processo, o que nos leva a conhecer e compartilhar é a vida social, somos seres gregários, vivemos em redes de relacionamento sempre abertos. Cada um de nós no conjunto glo...

Dialética poética

       Vem antes da escrita poética a dialética, as sombras intensas tomadas como arranjo,  E toda metafísica da poesia, de seu além físico se materializa através de uma concreção subjetiva que assume o pensar com as emoções. Dela consente que o afetivo se efetiva como valor memorial e se extrapola ao ser comunicada.       A imagem insólita ganha qualidades ao se interpor, ao se identificar com o poético. Nada dura das passagens eleitas, os lugares aonde andam nossos pés.  A calçada ao largo do relógio parado, na esquina das maledicências, no elevador que tudo deposita em caixas no aglomerado retilíneo das geometrias reguladas.      Muitas delas copiadas ao rés do chão das formalidades aceitas, e isso de reproduzir se torna um império que quer inovar, o lugar comum em que o novo se enovela tentando destituir a sua carne.      Mas ali está e se vê prontamente que não saímos longe do pós-guerra, ao menos daque...

Projeção do óbvio

     O óbvio, disse Nelson Rodrigues e, talvez também Suzana Flag, (a bandeira ou as pétalas do verdadeiro lírio), alma superior, diz ele, que o óbvio é alguém sentado no meio-fio de uma rua chorando e usando a gravata como lenço.               Essa individualidade lastimosa que nos diz que esta alma, este ser bem ajustado ao sistema, bom executivo, ainda, por alguma humanidade desconhecida se limpa no adorno, na forma, na gravata suas dores impermeáveis por nossa visão.     O mínimo que nos conta o máximo, ele, fora da casinha, da inserção grupal.   Não vemos que o sujeito está revestido da técnica, e não entendemos porque aquele corpo revestido do uniforme, da formalidade, chora. Dizemos, não cabe, ele nos põe em uma sinuca, está fora de questão, e isso, por fim se faz doloroso. Ele chora, fora do grupo , do que é compartimentado,  ele, um elemento.      Ficamos assombrados com isso. De...