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A gente, aqui em casa

 
para Sara

A gente aqui em casa não fala do diabo para não atraí-lo. Nem mais acreditamos no bem, isso porque a Esperança se transformou em fila de atendimento. Também não discutimos a existência de Deus, renunciamos a qualquer informação por causa da água estagnada que os mensageiros bebem e, em seguida, cospem em nossa cara. Debates sobre o provável, o primeiro telefone acústico inventado na idade mais selvagem, a existência da arte, a bondade de um beijo e a flecha no coração, a revolução da miséria humana e a democracia, a ditadura como gancho de emergência do trem da história, mas apenas falamos ao léu. Somos desarvorados, diferente dos desertos verdes das plantações comuns, e esquecemos os motivos, as razões quadradas e numerais de doutrinas, de teorias do entendimento. Nossas falas, narrativas a exibir nossa existência caem no fundo fácil das armadilhas, e assim, simulamos que deixamos a vida, encolhidos no fundo dos questionamentos para não ofender o óbvio, para que não venha a nos atormentar.
Falamos aqui em casa, todos ao mesmo tempo, não hierarquizamos a ordem das coisas, e o motivo é simples. Porém não podemos explicar, corresponder à qualquer tipo de expectativa, o que nos levaria a ser artistas, intelectuais criadores de pensamentos, mestres, sábios, professores, e, por abandono, sermos atacados em qualquer esquina, assediados, corrompidos e levados à tortura insuperável das posições das insanidades, -  bem arrumadas e comedidas dos feixes amarrados da vontade grupal. Aqui em casa é assim, abrimos as portas, uma de cada vez de livros, especialmente os esquecidos, entramos no teatro das relações, ouvimos e até vemos as galerias do passado e do presente, enterramos ressentimentos, e, sobre o estrume da absolutidade, plantamos algum futuro, admiramos o verde, comemos suas verdades, e vez e outra compartimos socialmente a receber a igualdade junto com as diferenças, e provamos perguntas, e criamos, livres no quintal, as nossas dúvidas.
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Charlie 

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