Faz tempo que o fator “aura” que Walter Benjamim nos mostrou foi despedida da função autoridade e autenticidade da obra de arte. Diferente do que se possa entender sobre objetividade autoral a respeito da criação, em se buscar a “obra prima” ou uma autoria definitiva no estilo, na forma, na estrutura a obra/ cópia (e não réplica que se refere ao autor como autoduplicação) de Miguelangelo do Café Maria tem as mesmas condições senão por similaridade, replicantes à sua constituição. Definitivamente, a obra de arte é um fazer artístico que realiza a sua quantidade em sua univocidade.
No estado da modernidade adiantada como em Giddens (1991) “A confiança nos outros é desenvolvida em conjunção com a formação de um senso interno de confiabilidade, que fornece ulteriormente uma base para uma auto-identidade estável.” Em se tratando de obra artística, o outro escondido em seu “cinzel” no passado, o próprio Miguelangelo, está multiplicado e se advém que a “obra” não é mais a coisa obrada senão sua representatividade “obreira” da arte. E não só ela, mas a fruição de um bem artístico em sua potência de vir-a-ser e não de permanência. E se tudo está a caminho da deterioração, mesmo as palavras muitas vezes reinventadas, nada mais que neologismos retomados em
suasignificação atualizada, o Miguelangelo em Davi/cópia é um significante iconosciente que presentifica a arte do obreiro e sua potência. E é o que basta.
Mesmo os que vão à Roma a vêem na praça e ficam extasiados pela cópia realizada em 1910. O Davi/cópia de Curitiba segundo o senhor José Carlos Fernandes, jornalista, possui 5,15m; e o “Gigante de Veneza” menor, com 4,10 metros. Trata-se portanto, de uma cópia ampliada.
No processo globalizante, os valores globais já presentes na fotografia, na repetição crítica, mesmo na ação tendenciosa de um discurso já se foram comum e se repetem no que foi apresentado no jornal.
Deve-se compreender que a obra de arte de Migulangelo não é mais a sua obra de arte, mas a significância artística da obra, mesmo na cópia. Feita num bloco só, ocupando os movimentos tratados pelo artista e em condições de similaridade evidente. O que difere é a posição da obra no ambiente que não é Romano, ausente o fator glamour e nostálgico de um saber crítico da obra de arte que a deseja perdurada, ambientada, definitiva na vida dos poucos conhecedores.
A arte é para todos, seja onde e como, desde que a represente.
O melhor destino da obra Davi: a visibilidade pública, o interesse sócio-cultural que o diga. Se até hoje “Mulher”, símbolo da justiça (Themis) está na Praça XIX de Dezembro por ordem administrativa, mesmo equívoco ou de desproporcionalidade, segundo o próprio Erbo que a “realizou” com Cozzo. O Museu Casa Erbo Stenzel é povoado com cópias, e todas bem definidas. Por que não Davi? Mesmo as Três Graças entre outras, ao contrário da vontade burocrático-administrativa, vontade particular do senhor Carlo Nuovo que oferece a cópia de Davi de Miguelangelo à venda? Por que não? Poderia ir à Escola, FAP, EMBAP ao jardim do MON, na Praça Itália perto do Jardim Botânico onde se queira desde que haja critérios para que a expressão viva de Miguelangelo presente na cópia possa realmente participar da comunidade. Participa? Onde deve ficar? Lugar fechado, aberto, etc. Como?Segundo Elvo Benito Damo, artista que presenteou a Cidade com várias obras em logradouros públicos, “a cópia do Davi deve permanecer entre nós, vale a pena, muita gente precisa ver e entender mais, saber mais e claro, se sensibilizar também. Porque é bem feita e vale.”
Quanto à legitimidade deve-se dar conta do que é legítimo. Isto é, foi legalmente solicitada, realizada, com documentos comprobatórios de origem, etc. Não é legítimo Miguelangelo, no entanto é um Miguelangelo.
Proteger a arte também é oferece-la.